domingo, 28 de setembro de 2008

O texto como unidade básica no processo de ensino e aprendizagem

É necessário propor situações de aprendizagem em que se trabalhem as funções, tramas e caracterizações lingüísticas dos textos.
É no processo de leitura, interpretação, discussão e produção de textos que a linguagem, usada em situações e com funções diferenciadas, propiciará o desenvolvimento lingüístico e comunicativo.
Os textos devem ter sentido para os alunos e possibilitar a compreensão e reflexão crítica sobre a sociedade.
Os alunos devem utilizar suas hipóteses de escrita para que, através do contato freqüente com a língua, avancem em suas hipóteses e compreendam o sistema alfabético.
Escrever, a partir de suas hipóteses, não é tarefa fácil para os adultos, cabendo ao professor planejar situações de aprendizagem, com significatividade, que promovam conflitos cognitivos e avanços no domínio da língua.
A reescrita de texto é um bom recurso didático que possibilita ao educando reconstruir o texto, imprimir sua marca individual, apropriando-se da estrutura textual, termos, tempos verbais, conteúdos específicos etc. "... o texto é o único lugar onde se pode trabalhar cognitivamente, pois só dentro dele as regras e convenções ganham sentido" 4
Trabalhando-se com a diversidade textual, resgata-se o uso social da leitura e da escrita, trazendo para a sala de aula discussões atuais, que fazem parte do mundo adulto. Assim, eles percebem que aprendem a interpretar os textos e o mundo na ótica do mundo letrado.
O processo de ensino e aprendizagem não visa cumprir formalidades, dar a resposta certa em exames, mas adquirir nova visão de mundo, questionar e fundamentar concepções.
O educador deve propor situações que envolvam a aprendizagem do sistema alfabético e a leitura e escrita de textos de uso social.
Para o início do trabalho de alfabetização de jovens e adultos, deve-se selecionar os tipos de textos de que os alunos têm mais conhecimentos prévios, em função do uso: listas, cartas, bilhetes, receitas, provérbios, letras de músicas, contos tradicionais, literatura de cordel, anúncios, propagandas, rótulos etc.
As situações de aprendizagem de leitura e escrita desses tipos de textos devem fazer parte do dia-a-dia da sala de aula, organizados em seqüências de atividades, em atividades permanentes, em projetos didáticos etc., visando propiciar :
a compreensão, por parte do professor, dos conhecimentos prévios dos alunos sobre tipos de texto (estrutura e função) e suas hipóteses em relação à escrita;aos alunos acesso a bons modelos através de atividades de leitura (individual, compartilhada - realizada pelo educador, em duplas ou pequenos grupos). Geralmente, nos grupos de alfabetização não há leitores autônomos; é preciso garantir a leitura realizada pelo educador
aos alunos a escrita de textos a partir de suas hipóteses de escrita. Em atividades de reescrita, de escrita de textos que sabem de cor e escrita de autoria;
aos alunos a revisão de suas produções textuais (individualmente, em duplas, em pequenos grupos, trocando textos entre os grupos, em parceria com o educador etc.), estabelecendo relações com os bons modelos estudados.
Crônicas, poesias, fábulas, contos, biografias, relatos históricos, textos de informações científicas, notícias, entrevistas, sinopses etc. devem fazer parte do cotidiano da sala de aula, organizados em situações que propiciem um início da aprendizagem. Num segundo momento ou no nível seguinte, o educador trabalhará, objetivando o domínio da leitura e escrita desses tipos de textos.
As formas organizativas podem incluir:
atividade permanente de leitura de livros de literatura, realizada pelo educador para apreciação (todos os dias);
atividade permanente com jornal (todos os dias ou uma vez por semana, roda de jornal) para aprender a manuseá-lo, buscar informações, selecionar textos, ler (mesmo que não convencionalmente), realizar a leitura de textos selecionados pelos alunos e análise e discussão das informações;
atividades de leitura e escrita (produção de um novo título para um texto literário ou informativo, reescrita de partes de um conto ou escrita de um novo final para um conto conhecido etc.
O uso de bons modelos de textos
O uso de bons modelos para leitura e escrita é ponto de partida para apropriação do texto, ou seja, conhecer as especificidades de um texto: o conteúdo, as funções, as tramas e caracterizações lingüísticas.
Os textos devem ser de autores consagrados e editoras conceituadas, uma vez que o modelo apresentado é um dos determinantes da qualidade dos textos produzidos pelos alunos. Modelos pobres, produções pobres; bons modelos, boas produções.
É a partir do contato freqüente com bons modelos de um gênero específico que o aluno torna-se capaz de escrever adequadamente um texto de autoria, respeitando e reconhecendo suas especificidades.
Leitura
" ... se a leitura não é um ato de comunicação imediata, é, certamente, um objeto de partilhamento." 5

Entender a leitura apenas como decodificação de signos é reduzir sua complexidade e riqueza.
As características do leitor (cultura, conhecimentos prévios e conhecimento lingüístico, esquemas conceituais e propósito de leitura) produzem maneiras diferenciadas de interpretação dos textos na busca de significado.
Planejar boas situações de aprendizagem é promover atividades em que o leitor utiliza seus conhecimentos prévios, culturais e lingüísticos para desenvolver suas estratégias de leitura, o que só acontece, quando os alunos interagem freqüentemente com grande variedade de textos.
As atividades de leitura dos textos de uso social devem cumprir as seguintes funções:
resolver problemas práticos;
informar-se a respeito de tema de interesse;
ampliar o conhecimento a respeito de um tema;
encontrar resposta a questões específicas;
proporcionar prazer;
comunicar um texto a um grupo de ouvintes;
resolver problemas como escritor e
aumentar ou resumir um texto.
Os alunos aprender a ler também como ouvintes, desenvolvendo estratégias de leitura. Segundo Lerner 6 , o professor deve: explicitar os motivos pelos quais quer compartilhar o texto com os alunos: porque está bem escrito, é atual, é original etc.; evitar escolher textos com informações inexatas, banais, distorcidas; oferecer elementos contextuais para favorecer a antecipação (informações sobre o texto, a capa, a seção do jornal em que aparece o texto etc.; assumir postura de leitor "expert": interessado, surpreso, emocionado, entusiasmado pelo texto; permitir que os alunos formulem e confrontem hipóteses; não explicar o que diz o texto, as palavras "difíceis" mas ajudar a descobrir o significado a partir do contexto.
Tais situações propiciam mesmo aos leitores não fluentes a compreensão do significado no texto, através dos índices que o texto oferece (título, ilustrações, diagramação etc.).
O educador deve ter clareza de que cada atividade de leitura envolve objetivos diferentes.
A leitura cotidiana de livros de literatura (capítulos, contos, crônicas etc.) propicia aos alunos ouvir um livro que sozinhos não teriam condições de ler e envolvê-los na magia dos livros. Não deve ser acompanhada de questionários ou de perguntas para conferir se memorizaram o que foi lido; é uma leitura exclusivamente para a apreciação, para desenvolver o gosto pela leitura. Deve-se propor atividades de leitura (individual ou em duplas) de textos literários, mantendo o mesmo objetivo.As atividades de leitura de jornal devem promover o desejo de estar informado dos acontecimentos cotidianos.Em outras situações de leitura o objetivo pode ser buscar informações referentes ao estudo que está sendo realizado ou questões que surgiram no grupo.As atividades também objetivam a leitura de produções dos alunos ou de outros autores para revisão de seus próprios textos.Enfim, o educador deve propor atividades de leitura (compartilhada, individual ou em duplas) desde o início da alfabetização, pois é assim que se aprende a ler: lendo!
Considerar a diversidade da sala
Cada educando formula hipóteses acerca da língua escrita, conforme a sua interação com o mundo letrado.
Os adultos têm uma infinidade de experiências vividas e, pelo menos nas grandes cidades, tiveram contato direto ou indireto com texto escrito, anúncios de televisão, logotipos... informações, cuja a mensagem captam, embora não leiam convencionalmente.
Nas salas de educação de adultos é comum encontrar diferentes níveis de conhecimentos. Mesmo que se digam analfabetos, as interações com os textos de uso social, através da leitura e escrita não convencional, possibilitam a alguns a produção de textos coerentes com uma hipótese de escrita não alfabética; outros não conseguem demonstrar seus conhecimentos, pois sentem-se inseguros e outros, que acreditam não saber ler e escrever, muitas vezes, têm o domínio do código.
É necessário considerar essa diversidade na mesma sala de aula, mudando não a atividade, mas a intervenção do educador e o nível de exigência para cada aluno.
O educador deve considerar em seu planejamento a diversidade do grupo e a forma de intervenção. Em uma atividade em que os alunos devem ler uma notícia de jornal e produzir um título adequado o educador propõe o seguinte encaminhamento: análise do texto, antes do início da leitura, para que identifiquem o tipo de texto e de onde foi retirado; leitura do texto e escrita de um título, considerando o tipo de texto e suas informações. Para esse momento planeja diferentes intervenções, considerando a diversidade do grupo. Para os alunos que lêem de forma convencional propõe que iniciem a atividade. Para os que não lêem convencionalmente, propõe a formação em grupo e o encaminhamento. Faz as perguntas que tinha planejado anteriormente:
De onde vocês acham que foi retirado o texto?
Que informações contém o texto?
O que indica isso?
Inicia a leitura, lendo partes e propondo que os alunos leiam outras partes, analisando com os alunos suas inferências e as informações do texto. Após a leitura pede que cada aluno escreva um título para a notícia, a partir de sua hipótese de escrita.Lê a notícia para o grupo todo, analisam o seu conteúdo do texto e os alunos lêem e analisam os títulos produzidos.Essa intervenção garante momentos individuais e coletivos de leitura, escrita, análise e revisão.
Texto extaído: centrodeestudos@.vila.org.br
"Se não houver frutos, valeu a beleza das flores; se não houver flores, valeu a sombra das folhas; se não houver folhas, valeu a intenção da semente."
Henfil

Um comentário:

Bala de goma disse...

Gostei muito do texto. Achei muito interessante.
Bjos.